sexta-feira, 15 de abril de 2011

Cap 4: Uma noite especial

O dia parece longo, a espera pela noite é compartilhada por ambos. Expectativas perpassam a cabeça dele. Empolgação toma conta do corpo dela. Ao longo do dia eles nem se falam e veem com tanta freqüência, mas isso não quer dizer que um não apareça no pensamento do outro. Parece que surgem pretextos desnecessários para um procurar o outro, e apenas fazer uma provocação aleatória. Eles gostam disso, e quem está em volta até percebe esse envolvimento, não tem como não notar.

Ela quer aproveitar a noite, e ele também, a seu modo preto e branco de ser. Talvez ela traga cores de diversas tonalidades para o seu mundo. Ele não parece querer recusar esse arco-íris.

Um convite, uma forma de pagamento, um ambiente diferente. Antes disso, um ensaio, na casa dele, o filme precisa ser melhorado. As falas de repente são esquecidas, na verdade elas parecem desnecessárias no contexto, e mais ações que não estavam no roteiro aparecem. Cadê o diretor pra botar ordem nas encenações? Não confiaria nos atores como os próprios diretores. A racionalidade às vezes desaparece, precisa de alguém de fora. Algum amigo envolvido na história talvez, um fã? Quem sabe..

Mais tarde, em outro ambiente não tão distante, o café foi substituído pela tequila mágica. O álcool fez a bebida ferver o corpo dela e embaralhar seus pensamentos. Dessa vez era o momento perfeito, a batida incessante deu o impulso que faltava.

Ele já a fitava, seus olhos cheios de desejo a queriam. Ela fingia não perceber, mas estava bem atenta aos movimentos. Um aperto de mão, olhares sugestivos, abraços, beijos no pescoço de repente relembra conquista. Inesperadamente ela se aproxima mais, provoca, ele não se contêm. A atração foi maior que o medo de rejeição. E dessa vez a rejeição não veio. O beijo foi intenso, longo. As batidas dos corações ecoavam mais do que a música que envolvia o ambiente.

Os corpos estavam muito próximos. Ela o abraça. Ela gosta disso, sente como se nada a pudesse atingir, uma espécie de conforto, proteção, segurança. O medo que ela talvez sinta não é um só, abrange muitas coisas e vai além da sua subjetividade. Nem ela sabe dizer o que ao certo.. Confusa, esse seria seu sobrenome perfeito.

Ele se revolta por ter tantas dúvidas ao seu respeito na cabeça, mas ela frustra-se também, por também não saber responder a maioria das perguntas sobre si mesma.

Enquanto isso, quando finalmente seus lábios se desgrudam relutantes a música volta ao normal. Ela resolve dançar, ele encosta na parede, põe habitualmente suas mãos no bolso e se delicia observando-a. Apesar de que, surpreendentemente ele a tira pra dançar, ela não esperava isso dele. Percebe que tem muitas coisas que ainda não sabe a seu respeito, e sinceramente não tem pressa de descobrir.

A noite passa rápida demais, e nenhum dos dois quer isso, se pudessem parar o tempo, seria algo a ser pensado. O encanto da lua os envolve mais ainda, e muito antes do esperado ela tem que partir. A marca do seu batom fica impregnado em sua camisa, assim como o beijo fica marcado em sua boca.

Em casa ela relembra os acontecimentos da noite passada. Dúvidas e incertezas invadem seus pensamentos.

Ela não é tímida, isso não combina com ela, mas ele consegue fazer com que ela perca a fala. O jeito que ele a olha é tão intenso que faz com que ela seja, de certa forma, obrigada a desviar o olhar. Mas ela paga na mesma moeda, nesse jogo em que não há vencedores nem perdedores, ela o insulta intrigando-o e fazendo-o sentir na pele o mistério que nele mesmo pairava. Será castigo?

Ele, em sua casa, também pensa, repassa os episódios, e com sua memória inigualável relembra cada palavra dita por ela, cada gesto, olhar. As cenas passam como um filme em sua mente, e uma idéia capciosa surge.. Decide fazer uma proposta a Morfeu. Trocar de lugar com ele por uma noite, e adentrar na mente da Srta Incógnita, desvendar seus sonhos, entender seus medos. Quem sabe assim descubra as “verdades” que tanto tiram seu sono. As dúvidas são muitas, e ela fica na defensiva para não revelá-las.

No sonho ele encontra duas frases ditas por ele e que a impressionaram de alguma forma, uma delas: “Você tem medo de se apaixonar”, ela sabe que não é isso que sente, pelo menos não no sentido literal da palavra. Talvez não seja medo a palavra certa, pode ser receio. Mil coisas passam pela cabeça dela, a situação não é tão simples quanto pode parecer, envolve passado, anseios. E ele não vai desvendar assim tão fácil.

Outra frase que se destacou na viagem pelos seus pensamentos foi sobre a apreensão dele de como seria a atitude dela após o episódio, questionava-se se ela fingiria que nada tivesse acontecido. Por quê as pessoas sempre pensam isso dela? Ela aparenta ser assim? Fria, calculista.. Essa mesma ‘estrategista’ é aquela que chora desesperadamente em filmes de romance. Nem todas as pessoas tem só uma face a ser mostrada, e com ela não é diferente.

O próprio F.C. 28 em poucos dias mostrou faces variadas a Incógnita, tudo propiciado pelas horas de conversas na madrugada. Ele se apresenta por capítulos assim como seus roteiros, e ela sente confiança de se mostrar também, aos poucos. Qual a previsão de tempo para toda essa descoberta? O universo pode conspirar a favor, ou não..

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