sexta-feira, 25 de março de 2011

Cap 1: Café Mágico

Em casa. Exausta. Mexendo em seus cabelos. Levando as duas mãos ao rosto. Realmente cansada. Longo bocejo. Já se imagina sob um banho relaxante. Durante o banho, pensando em alguns acontecimentos da semana. Sua mente vai do triste ao inesperado. Fome. Jantar. Msn. Pretendente novo on-line. Sr e Sra “incógnita” logados. Conversa insinuante e longa, regada a uma espécie de café mágico. Café roubando a cena...protagonista? Difícil crer. “Não sei se acredito...”. Frase dela e que não sai da sua cabeça. A noite pré-chuvosa e fria delineiam um belo contraste com o papo dos dois. Certa sensação de poderiam aproveitar melhor a noite juntos. Convite de amigos para um show. Ele não demonstra interesse. Mas não nega que seria ótimo tê-la ali, na sua frente. Ela o instiga. Sente muito prazer com isso. Até que ponto?

- Espero que não seja sádica...

Fila. Frio. Pensa e repensa. Decide pedir o endereço. Fazer uma visita.

Passos. Ela olha para cima procurando a lua, mas seus olhos se cruzam com uma nuvem descomunal e cinza – ela supõe. Para e admira um pouco o seu contorno. Não há trovões. Tudo o que se ouve é o vento frio que busca abrigo no seu rosto cálido.

Um dia longo. Casa semi-vazia. Em instantes, a música preenche, lentamente, incertezas e incita outras dúvidas. Tudo é compartilhado e ele apenas observa pacientemente sua ampulheta. Entretanto, esta não lhe diz nada. Lá fora, o céu imponente parece posar para uma fotografia.

Quando decide voltar a andar, depara-se com um estranho que mantém as duas mãos voltadas para trás. Troca de olhares. Involuntariamente, ela coloca a mão direita sobre a bolsa, como se a protegesse. Ele solta uma gargalhada sutil. Ela suspira ofendida. Vermelha. Ele abre os braços e lhe revela um buquê. Esconde o rosto entre as flores e oferece-lhe com uma reverência do século XIV. Ela tenta se esquivar e diz rapidamente, assustada:

- Não...obrigada. Eu não tenho dinheiro.

Ele se interpõe novamente em seu caminho:

- Não disse que estavam à venda. – incisivo.

Deixa-lhe as flores e caminha às suas costas, enquanto abre um guarda-chuva.

“Nem tá chovendo, idiota!”

O perfume das flores a agrada o suficiente para não jogá-las fora. No fim, pega-se rindo sozinha no meio da rua. Já sabe o que fazer. Rua deserta. Irromper da madrugada. O vento contribui para um arrepio. Acelera seus passos silenciosos. Breve olhar ao seu redor. Nada. Em busca de alívio. Continua. É acompanhada pela frágil luz noturna. Galhos de árvores balançam e as folhas entoam uma melodia desconexa. Já passa da meia noite quando chega. O vento arde seus olhos. Liga para o dono da casa:

- Oi...Tô aqui em frente. Vem logo...parece que vai chover mesmo.

- Claro...tô indo.

Lá dentro, consigo mesmo:

“Só mais uns minutos...”

Volta a olhar para a ampulheta. Falta pouco. Então, simplesmente aguarda.

Ela liga novamente:

- Cadê você?

- Tô indo...tô chegando...

- Como você sabe, parece que vai chover, né? Anda logo.

- Agora sim...

- Agora sim o quê? – Levemente irritada –

Já na frente da casa:

- São meia noite e vinte oito. – sorrindo.

- Ahh...que graça. Olha o que eu ganhei.

- Hum...de quem?

- Do meu admirador noturno.

Franzindo a testa.

- O Morfeu...quem mais? Hahahahaha.

- Hahaha...Será? Vejamos...

Ele ergue um indicador e começa a apontar as flores, uma a uma.

- 28? Hahahaha...Olha...Não acredito.

- Quem era ele?

- Ele quem?

- O cara das flores.

- Não sei do que você ta falando...Mas, lembra da conspiração do universo? – irônico.

Ambos são iluminados por um relâmpago seguido por um trovão.

- Olha...Você disse que nunca viu. Esse é um céu castanho.

- É. Não to vendo nada castanho.

- Definitivamente, você precisa de um óculos.

- Há.........ha............ha.

Os dois fixam seus olhares. Ele quebra o silêncio apontando um dedo, indicando atenção:

- Tá ouvindo?

- O quê? Não tô ouvindo nada.

- Só falta me dizer que sou surda agora, hsdiosdhiod.

- Eu diria que você é surda e cega prá muitas coisas. – Sorrindo. Mas, escuta.

E começa a tempestade.

- Se quiser, pode usar o guarda-chuva. Só faltava a trilha sonora.

Ele se escora na árvore, apóia a mão sob o queixo, cruza os braços e se deleita com a imagem de um misto de teimosia, impaciência, indecisão, presunção, provocação, magnetismo, beleza, prazer, distância, dificuldade...provas.

- Chega, né? Seu doido...se a gente não entrar, eu vou embora.

- Alguém já disse que você fica irresistível embaixo desse guarda-chuva?

- Derrr.. Besta, hsdiosdhiod.

Ele se aproxima. Não desvia de seus olhos castanhos. O verde das folhas se mistura ao castanho num borrão. Batidas de coração o impulsionam. Ele a envolve. Água gelada ; corpos quentes. Ele toma o guarda-chuva, segura sua mão, chega perto do seu ouvido e sussurra:

- Prometo que não vou esquartejá-la.

Ela ri. Ele beija seu pescoço.

Seguem-se batidas imprecisas. Mãos apertando seu corpo e um longo beijo marcante que os faz perder a noção de tempo e espaço. Mãos que percorrem suas pernas. Intenso. Peito contra seios. Assim como veio, a chuva se entrega e para. Os dois caem em si e riem um para o outro.

                                                              To be Continued..

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