quarta-feira, 30 de março de 2011

Cap 2: Srta Incógnita

Ela fica vermelha, não sabe o que dizer, tampouco ele diz alguma coisa, mas seu olhar revela muito mais do que qualquer palavra. Mas ela é curiosa e quer ir mais além, e mais do que isso, ela adora provocar. É um dos seus passatempos preferidos. E ele gosta de ser provocado, é a oportunidade perfeita para ser irônico.

Eles se divertem com esse joguinho de sedução, e dessa vez sem café. Será esse um avanço nos flertes? Melhor não arriscar..

Ele a convida para entrar, ela não pensa duas vezes, começa a ficar com frio ali fora (ela não é muito fã de chuva assim como seu pretendente). Ela entra e logo se sente bem à vontade.

Ele dirige-se a cozinha e vai preparar um café para os dois, ele não quer perder a magia daquele momento.. Por um instante perde-se em devaneios imaginando no que a Srta Incógnita está pensando naquele instante.

Quando volta com os cafés olha intensamente para ela. Ela ruboriza-se, e pergunta porque ele a olha tão profundamente? Diz também que tem medo disso, não é como se ele fosse um serial killer ou algo do tipo, mas é observador e ninguém nunca antes a ‘desvendou’ tão bem quanto ele em pouco tempo. Ele responde que apenas quer enxergá-la melhor e enfatiza que irrita não entendê-la profundamente. Ela se diverte com o que ele diz, e prefere não responder pra manter seu título de interrogação.

Pensando bem, não é bem assustada, ela fica mais intrigada com o jeito dele, e isso é prazeroso pra ela. É como se ele fosse de outro século, nunca conheceu ninguém do estereótipo dele e ela só pensa em desvendar cada vez mais.
O intuito do jogo parece comum para ambos... Eles se sentam de frente um para o outro, num mesmo sofá, se encaram por um minuto até que de repente ele se aproxima para beijá-la. Ele parece adorar surpreender, ela esquiva-se, não sabe bem o que pensar. Ela é confusa, racionalista na maior parte das vezes e indecisa e ela odeia isso nela. Começa a passar mil coisas pela sua cabeça, e na dele também.

Lentamente ele vai se afastando, ela percebe esse movimento e segura sua mão. Começa a acariciá-la suavemente. Ambos sorriem e parece que finalmente o gelo foi quebrado, e não foi o café que provocou esse derretimento. Provavelmente foi o calor dos corpos que ocupavam o cômodo.

Então ela muda de assunto, não que eles estivessem conversando muito, seus olhares falavam por si só. Mas ela começa a fazer o que sempre faz, falar muito e fazer um monte de perguntas. Ela quer descobrir, entender e não é apenas curiosidade jornalística..

Eles conversam por um bom tempo, as mãos não se desgrudam, e até se acomodam umas nas outras, como um encaixe perfeito. Ele vai respondendo as perguntas e não resiste em fazer outras para ela, não pode perder a oportunidade de entendê-la um pouco mais.

Café esfriando, esgotando-se. Sinal de que o tempo passa imperceptível, não se sabe mais se chove lá fora, e isso também não é de interesse de nenhum deles no momento.

Quando finalmente ela se dá conta do tempo, percebe que não terá como voltar mais pra casa. Um convite para ficar é feito, certa hesitação.. Ele percebe e diz para ela “relaxar”, ele parece gostar muito desse verbo, ela pensa.

Resolve aceitar, não tendo muita escolha.. Ele diz que não precisavam dormir, poderiam ficar a noite toda conversando. A idéia lhe agrada e ela pede mais do mágico café.

Quando ele ameaça levantar para preparar mais café, ela decide agir por impulso. Essa atitude é novidade para ela, é como se um animal selvagem tomasse conta do seu corpo e ela agisse por instinto, pensando em saciar seu desejo.

Ela o puxa para perto, e lhe arranca um beijo. Isso o instiga, ele responde na mesma proporção e seu corpo vai esquentando progressivamente. A temperatura de repente aumenta na sala e nenhum dos dois mais sabe a dimensão do tempo e espaço.

A sensação é excitante para ambos. Ele tem um aspecto sedutor e misterioso que a deixa com más intenções de provocar. Ela beija seu pescoço esperando que ele faça o mesmo com ela, de novo.. Ela adora arrepiar e ali é o ponto certo para conquistá-la.

Percebendo seu capricho ele satisfaz seu desejo, palavras são desnecessárias. No momento a sintonia é plena.. Ela morde levemente seu lábio, e ele descobre sua parafilia, mais conhecida como odaxelagnia. Ele gosta, e esboça um sorriso atraente.

Não satisfeita, ela insiste em tentá-lo mais ainda e ele não a rejeita de nenhum modo. Ela o empurra até a parede e com o olhar em chamas, vai beijando e mordendo devagarinho toda a região do rosto e pescoço.

Aproveitam cada segundo, a mente dele fica vazia, impossível processar algum pensamento naquele instante. Já o dela está cheio de más intenções, não que ela seja sádica como ele imagina, nem que ela goste de torturar (só um pouco), mas ela gosta de ter tudo sob controle.

A percepção de que está ultrapassando os limites toma conta da mente dela. A racionalidade e realidade se apoderam novamente de seu ser e ela vai se contendo novamente. Não que ela esteja sendo fria com ele, apenas não quer ser muito quente. O meio-termo é bom. Ela o relembra do café, e ele contrariado vai fazer mais.

A noite estava apenas começando ao contrário do que parece. A primeira noite castanha para ela, e a companhia dos olhos castanhos para ele se igualavam na satisfação.

Uma trilha sonora a envolveu, Interpol estava tocando e ela surpreendentemente gostou, mesmo preferindo Anberlin, a companhia e o café a fizeram não reclamar do que estava sendo oferecido. Pelo contrário, estava confortada ali, e não pensaria em estar em outro lugar.

Os olhos e atitude dele diziam o mesmo.. O sol foi raiando inesperadamente, enquanto estavam envolvidos um no outro.

Ela vê então a necessidade de ir para casa, o tempo passou relativamente rápido para os dois, a cafeína não foi protagonista, mas teve papel importante aquela noite.

Ele se oferece para acompanhá-la, parece querer passar mais tempo com ela. Não que ela não queira, mas ela recusa a oferta e agradece pela noite inesquecível. Ao mesmo tempo ele diz sua casa estar sempre aberta para ela, e com aquele sorriso sarcástico que a ‘irrita de uma maneira boa’, diz que ele também não se importaria de ter sua companhia mais vezes.

Ela, sorri e ansiosa, percebe no olhar penetrante do 28 um resquício de afeto. Ela o abraça contagiando seu corpo e um último beijo sela a noite que virou dia.

Ele a acompanha ir embora com o olhar e não consegue evitar as dúvidas que lhe invadem os pensamentos. Ela apenas sorri internamente, e não pensa em nada e se pensa não expressa.

O mistério deve continuar, afinal qual a graça de saber e se ter certeza de tudo?











sexta-feira, 25 de março de 2011

Cap 1: Café Mágico

Em casa. Exausta. Mexendo em seus cabelos. Levando as duas mãos ao rosto. Realmente cansada. Longo bocejo. Já se imagina sob um banho relaxante. Durante o banho, pensando em alguns acontecimentos da semana. Sua mente vai do triste ao inesperado. Fome. Jantar. Msn. Pretendente novo on-line. Sr e Sra “incógnita” logados. Conversa insinuante e longa, regada a uma espécie de café mágico. Café roubando a cena...protagonista? Difícil crer. “Não sei se acredito...”. Frase dela e que não sai da sua cabeça. A noite pré-chuvosa e fria delineiam um belo contraste com o papo dos dois. Certa sensação de poderiam aproveitar melhor a noite juntos. Convite de amigos para um show. Ele não demonstra interesse. Mas não nega que seria ótimo tê-la ali, na sua frente. Ela o instiga. Sente muito prazer com isso. Até que ponto?

- Espero que não seja sádica...

Fila. Frio. Pensa e repensa. Decide pedir o endereço. Fazer uma visita.

Passos. Ela olha para cima procurando a lua, mas seus olhos se cruzam com uma nuvem descomunal e cinza – ela supõe. Para e admira um pouco o seu contorno. Não há trovões. Tudo o que se ouve é o vento frio que busca abrigo no seu rosto cálido.

Um dia longo. Casa semi-vazia. Em instantes, a música preenche, lentamente, incertezas e incita outras dúvidas. Tudo é compartilhado e ele apenas observa pacientemente sua ampulheta. Entretanto, esta não lhe diz nada. Lá fora, o céu imponente parece posar para uma fotografia.

Quando decide voltar a andar, depara-se com um estranho que mantém as duas mãos voltadas para trás. Troca de olhares. Involuntariamente, ela coloca a mão direita sobre a bolsa, como se a protegesse. Ele solta uma gargalhada sutil. Ela suspira ofendida. Vermelha. Ele abre os braços e lhe revela um buquê. Esconde o rosto entre as flores e oferece-lhe com uma reverência do século XIV. Ela tenta se esquivar e diz rapidamente, assustada:

- Não...obrigada. Eu não tenho dinheiro.

Ele se interpõe novamente em seu caminho:

- Não disse que estavam à venda. – incisivo.

Deixa-lhe as flores e caminha às suas costas, enquanto abre um guarda-chuva.

“Nem tá chovendo, idiota!”

O perfume das flores a agrada o suficiente para não jogá-las fora. No fim, pega-se rindo sozinha no meio da rua. Já sabe o que fazer. Rua deserta. Irromper da madrugada. O vento contribui para um arrepio. Acelera seus passos silenciosos. Breve olhar ao seu redor. Nada. Em busca de alívio. Continua. É acompanhada pela frágil luz noturna. Galhos de árvores balançam e as folhas entoam uma melodia desconexa. Já passa da meia noite quando chega. O vento arde seus olhos. Liga para o dono da casa:

- Oi...Tô aqui em frente. Vem logo...parece que vai chover mesmo.

- Claro...tô indo.

Lá dentro, consigo mesmo:

“Só mais uns minutos...”

Volta a olhar para a ampulheta. Falta pouco. Então, simplesmente aguarda.

Ela liga novamente:

- Cadê você?

- Tô indo...tô chegando...

- Como você sabe, parece que vai chover, né? Anda logo.

- Agora sim...

- Agora sim o quê? – Levemente irritada –

Já na frente da casa:

- São meia noite e vinte oito. – sorrindo.

- Ahh...que graça. Olha o que eu ganhei.

- Hum...de quem?

- Do meu admirador noturno.

Franzindo a testa.

- O Morfeu...quem mais? Hahahahaha.

- Hahaha...Será? Vejamos...

Ele ergue um indicador e começa a apontar as flores, uma a uma.

- 28? Hahahaha...Olha...Não acredito.

- Quem era ele?

- Ele quem?

- O cara das flores.

- Não sei do que você ta falando...Mas, lembra da conspiração do universo? – irônico.

Ambos são iluminados por um relâmpago seguido por um trovão.

- Olha...Você disse que nunca viu. Esse é um céu castanho.

- É. Não to vendo nada castanho.

- Definitivamente, você precisa de um óculos.

- Há.........ha............ha.

Os dois fixam seus olhares. Ele quebra o silêncio apontando um dedo, indicando atenção:

- Tá ouvindo?

- O quê? Não tô ouvindo nada.

- Só falta me dizer que sou surda agora, hsdiosdhiod.

- Eu diria que você é surda e cega prá muitas coisas. – Sorrindo. Mas, escuta.

E começa a tempestade.

- Se quiser, pode usar o guarda-chuva. Só faltava a trilha sonora.

Ele se escora na árvore, apóia a mão sob o queixo, cruza os braços e se deleita com a imagem de um misto de teimosia, impaciência, indecisão, presunção, provocação, magnetismo, beleza, prazer, distância, dificuldade...provas.

- Chega, né? Seu doido...se a gente não entrar, eu vou embora.

- Alguém já disse que você fica irresistível embaixo desse guarda-chuva?

- Derrr.. Besta, hsdiosdhiod.

Ele se aproxima. Não desvia de seus olhos castanhos. O verde das folhas se mistura ao castanho num borrão. Batidas de coração o impulsionam. Ele a envolve. Água gelada ; corpos quentes. Ele toma o guarda-chuva, segura sua mão, chega perto do seu ouvido e sussurra:

- Prometo que não vou esquartejá-la.

Ela ri. Ele beija seu pescoço.

Seguem-se batidas imprecisas. Mãos apertando seu corpo e um longo beijo marcante que os faz perder a noção de tempo e espaço. Mãos que percorrem suas pernas. Intenso. Peito contra seios. Assim como veio, a chuva se entrega e para. Os dois caem em si e riem um para o outro.

                                                              To be Continued..